A
MENINA DA
BICICLETA MÁGICA
Gaspar
Silva
2020
Era uma vez uma menina que
se chamava Cristina, tinha sete anos, era muito bonita. inteligente e muito
atenta a tudo o que a rodeava.
Gostava muito de música, de passear com os pais e brincar com os coleguinhas de
escola assim como de todos os vizinhos.
Adorava os pais e estes
eram muito amigos dela.
Tinham um cão chamado Fredy
que era a alegria da casa. Quando vinha da escola que ficava pertinho de onde
vivia o primeiro a recebê-la era o cãozinho.
Era uma doçura e era
completamente louco pela menina, não a largava um segundo.
sempre a saltar, a
rebolar-se aos seus pés e a dar ao rabinho de contente, fazia logo os trabalhos
de casa e depois brincava com cão e via televisão.
Quando se ia deitar e
enquanto a mãe ou o pai lhe contavam uma historinha o Fredy assistia deitado no
tapete ao lado da caminha dela e dormia a seu lado toda a noite.
Quando de manhã a mãe a ia
acordar ele saltava para cima da cama e fazia uma grande festa aos saltos para
a amiguinha acordar.
Andava sempre à volta dela,
tanto quando tomava o pequeno almoço como quando se vestia, não a largava um
segundo ele sabia que a seguir ela ia para a escola e só a via
quando viesse da escola à tarde.
A casa onde viviam era muito bonita.
Era muito boazinha e
obediente e tocava muito bem flauta, sempre que podia tocava algumas músicas para
os seus pais e para o seu vizinho idoso que morava sozinho mesmo ao lado da sua
casa.
O velhinho o Sr Freitas tinha
dois filhos mas estavam muito longe no
Canadá entretinha--se a inventar coisas
para passar o tempo e adorava ouvir a Cristina tocar.
Todas as músicas que ela ia
aprendendo na escola tocava-as para o seu amiguinho idoso quando chegava a
casa.
Já sabia muitas e ficava
muito feliz de as tocar para uma assistência tão atenta como o Sr Freitas e o
Fredy.
De vez em quando fazia uma
boneca de pano e dava-a á Cristina.
Algumas foram destruídas
pelo Fredy que as desfazia nas suas brincadeiras.
A Cristina gostava muito de brincar
com os amigos no recreio da escola mas também gostava muito de ouvir as
histórias que o Sr Freitas lhe contava.
Ele era muito paciente e
lia-lhe histórinhas de alguns livros já muito velhos que tinha comprado há
muitos anos para ler aos seus filhos, dois rapazes e uma menina que agora já
são adultos e todos casados.
Os pais da Cristina gostavam
muito do Sr Freitas e como ele vivia sozinho de vez em quando convidavam-no a
jantar em casa deles.
O velhinho tinha na
arrecadação muita tralha e algumas coisas esquisitas, coisas fora do comum,
havia algum mistério no meio daquilo tudo acho que ele tinha um dom qualquer
especial penso que seria mágico. Uma vez construiu uma cozinha
completa com fogão, forno, banca
de lavar louça, louça e panelas, copos, canecas, talheres, tudo direitinho para
ela brincar de cozinhar e na verdade talvez por isso e com a ajuda da mãe
aprendeu muito cedo a fazer bolos e alguns pratos, tanto que de vez em quando
fazia um bolo e levava um bocado para o Sr Freitas.
Era uma família muito feliz,
o Pai, o Sr Carlos era motorista e a mãe a Dª Emilia era costureira. Ao domingo
iam sempre a uma confeitaria comer croissants, tostas mistas e rissóis e bebiam
sumos e Coca Cola.
A Cristina nunca se esquecia
do Sr Freitas e pedia sempre aos pais para levar um croissant para ele, os pais
como gostavam dele aceitavam e ela toda vaidosa lá lhe ia entregar a gulosice e
o velhinho ficava radiante.
O vizinho idoso estava
sempre à espera que a menina viesse da escola para lhe dar um beijinho e saber
como tinha corrido o dia na escola. Um dia deu-lhe uma flauta que ele próprio
fez em madeira toda trabalhada com desenhos gravados de alguns pássaros e de
cada vez que a Cristina tocava com ela apareciam logo a sobrevoar o local onde
ela estava, passarinhos, melros, pintassilgos e
até pombas que parecia que
dançavam criando a ilusão de um bailado certinho com a melodia. Numa dessas
tardes, quando chegava da escola deu-lhe um beijinho como de costume e disse-lhe
que estava a fazer uma coisa que estava quase pronta para lhe oferecer e a
Cristina ficou ansiosa para saber o que era e andou duas semanas sempre a
pensar nisso, até que um dia lá estava o Sr Freitas à espera dela com uma
bicicleta muito bonita mas em vez de rodas tinha umas pranchas tipo skate sem
rodas e imaginem voava.
O velhinho disse-lhe para
se sentar e colocar o cinto de segurança e a seguir
ensinou-lhe como a fazia
funcionar, era só premir um botão e bastava pensar para onde queria ir que ela
obedecia, começava a levantar do solo e voava para o destino desejado. Era uma
bicicleta mágica. Das primeiras vezes a Cristina muito a medo voou só no pátio
em frente da casa depois através do caminho que ficava a meio das duas casas, a
dela e a do Sr Freitas foi para a parte de trás onde tinha uns quintais grandes
e depois umas quintas, um rio e uma enorme floresta.
Que alegria, via as casas
por cima e tudo em redor, era um espectáculo digno de se ver e conforme foi
perdendo o medo cada vez subia mais alto. A vista era fantástica, era como
andar de avião, incrível, a visão era completamente diferente, adorava a sua
bicicleta voadora. A partir desse dia sempre que chegava da escola e antes de
fazer os deveres de casa, conforme tinha acordado com os seus pais,voava um bom
pedaço pela zona onde morava e dizia adeus às pessoas lá de cima. Toda a gente
gostava de a ver. Ás vezes as coleguinhas da escola corriam em baixo na maior
das alegrias a seguir o percurso que ela fazia e gritavam: Cristina, Cristina,
Cristina e o Fredy também ajudava à festa, corria junto e dando saltos e normes
e grandes correrias ladrava de contente. Os fins de tarde eram para toda a
gente graças à alegria da menina inesquecíveis.
Num desses passeios aéreos viu
um ninho de cegonhas muito lindas e foi lá espreitar, a mãe cegonha que estava
sossegada com a suas crias ficou desconfiada e perguntou:
- Quem és e o que andas aqui
a fazer?
- Ela ficou um bocado
atrapalhada mas respondeu:
- Eu sou a Cristina e moro
ali naquela casa, apontando com o dedo, não tenhas medo que eu não te faço mal.
Posso fazer uma festinhas nos teus filhos? São tão pequeninos e tão bonitos. A
mãe cegonha autorizou e acho que até ficou feliz, entretanto chegou o marido da
cegonha e muito desconfiado disse:
- És a menina que mora lá ao
fundo? Eu tenho te visto quando vais e vens da escola e a brincar no pátio.
Como é que consegues voar sem asas? E ela explicou-lhe que foi o Sr. Freitas, o
seu vizinho idoso que inventou aquela engenhoca parecida com uma bicicleta que
voava e obedecia ao seu pensamento e que estava muito feliz porque via tudo de
cima e tudo era ainda mais bonito. Fez
mais umas festinhas aos filhotes da cegonha e despediu-se porque não tardava
começava a escurecer e ainda não tinha feito os deveres.
A partir desse altura tanto
a cegonha como o marido passavam por cima da casa dela e voavam em circulo como
que a cumprimenta-la e ela dizia-lhes adeus cá de baixo.
O dia a dia da Cristina era
uma festa, tinha uns pais e um vizinho maravilhosos, uns coleguinhas de escola
muito amigos, sempre prontos para a brincadeira e a professora a D. Mafalda
ensinava muito bem e era muito paciente e simpática com todos os meninos. A ida
para a escola era uma festa para todos, aprendiam muitas coisas novas todos os
dias e divertiam-se imenso.
No recreio brincavam às
escondidas, andavam de escorregão, saltavam ao jogo da macaca, à corda, tudo
coisas divertidas, mas o que a Cristina gostava mais era de andar na bicicleta
mágica e ver tudo de lá de cima, sentia-se um pássaro.
Quando chegaram as férias
grandes, foi uma maravilha, como os pais estavam a trabalhar e ela ficava à
guarda do Sr Freitas era uma brincadeira pegada todo o santo dia, ainda por
cima o velhinho como gostava muito de pescar levava-a com ele até ao rio que
ficava no final das quintas
e os meninos das redondezas, coleguinhas de escola dela apareciam também para
brincar e tomar banho no rio numa zona mais baixinha, sempre com o Sr Freitas a
vigiar tudo. Que dias tão felizes. Depois de acabar a pesca vinham todos a
correr juntamente com o Fredy sempre à frente a comandar as tropas e era aí que
Cristina pegava na bicicleta e dava umas voltas por cima das casas onde viviam
e todos seguiam a colega até começar a
escurecer, altura em que cada um ia para a sua casa já a pensar no dia
seguinte.
Um dia quando voava na sua
bicicleta mágica com os coleguinhas em baixo a correr atrás sentiu que estava
ser seguida por muitos pássaros, andorinhas, pombas, rolas, tordos,canários e
pintassilgos num alegre chilrear que davam um colorido mais alegre ainda e
enchiam o ar de magia.
Até os passarinhos gostavam
de ver a menina, tal era a alegria que transmitia a toda a gente. Os pais
ficavam radiantes à janela a ver a sua filhota a divertir-se assim mas ficavam
sempre com receio que se magoasse. Felizmente nunca aconteceu.
Ela já sabia que quando
chegasse a casa iria ouvir as recomendações do costume:
- Não podes subir tão alto.
- Tens que andar mais
devagar.
- É que não tiveres muito cuidado
um dia magoas-te.
Ela ouvia mas sorria sempre
porque tinha muito cuidado.
O seu amigo idoso ficava
também imensamente feliz, notava-se-lhe na cara, tinha muito orgulho na
bicicleta que tinha inventado e adorava ver a menina com tamanha felicidade.
Trabalhou muito toda a vida
e agora que estava reformado tinha todo o tempo do mundo, era viúvo, vivia
sozinho, e estava muito longe dos filhos e netos.
Entretanto acabaram as
férias e tudo voltou ao normal, as aulas as brincadeiras no recreio com os
amiguinhos a festa que o Fredy fazia à sua chegada, e os miminhos do costume do
seu vizinho idoso.
Um dia o Sr Freitas recebeu
uma carta que o deixou imensamente feliz e ao mesmo tempo muito triste.
Era do filho mais velho a
dizer que dentro de um mês o viria visitar e passar quinze dias com ele e que
se preparasse porque a seguir o levava com ele para o Canadá.
Que vinha ele, a mulher e os
dois filhos.
Finalmente ia conhecer os
seus netinhos daquele filho.
Enquanto não chegavam andou
todo o tempo a pensar que se calhar nunca mais voltava a ver a Cristina e os
pais dela.
Durante todo aquele tempo
foi dizendo à menina que qualquer dia tinha de viajar e que devia demorar
bastante mas ela não tinha a noção de que ele provavelmente não voltava mais.
Um dia parou um táxi à porta
e lá estavam o filho a nora e os dois netinhos. Acabaram de arrumar as malas e
o Sr Freitas quis logo ir a casa da menina apresentar a sua família aos pais
dela.
A Cristina ficou radiante de
conhecer o Pedro e a Ana e logo começou a brincar com eles. Passado cinco
minutos parecia que se conheciam há muito tempo.
Durante os quinze dias foi
uma festa, mal chegava da escola ia ter com os seus novos amigos, brincava um
bocadinho, tocava algumas músicas na flauta para todos,
ia fazer os trabalhos da escola
e voltava para brincar até à hora do jantar que depois de comer tinha que se
deitar para de manhã estar pronta e fresca para mais um dia de aulas.
Foi tudo muito bonito mas
eis que chegou o dia da despedida e o Sr Freitas deixou para o fim dizer adeus
à sua Cristina, e disse:
- Foi muito bom ter-te como
amiga, gosto muito de ti mas tenho que viajar e não sei quando volto.
Olhou para a bicicleta e
sabia que ela iria deixar de funcionar, a magia passava sem a sua presença.
Deu-lhe muitos beijinhos e
eis senão quando ela lhe perguntou:
- Sr Freitas, como se faz
magia?
- ele respondeu:
- Quando um
sonho vive dentro de nós, basta acreditar que tudo é possível e encontraremos
um caminho para realizá-lo, nada é impossível, basta acreditar!