segunda-feira, 6 de abril de 2020

A menina da bicicleta mágica - Conto infantil dedicado á minha netinha Carolina.





A MENINA DA BICICLETA MÁGICA
Gaspar Silva
2020



Era uma vez uma menina que se chamava Cristina, tinha sete anos, era muito bonita. inteligente e muito atenta a tudo o que a rodeava.
Gostava muito de música, de passear com os pais e brincar com os coleguinhas de escola assim como de todos os vizinhos.
Adorava os pais e estes eram muito amigos dela.


Tinham um cão chamado Fredy que era a alegria da casa. Quando vinha da escola que ficava pertinho de onde vivia o primeiro a recebê-la era o cãozinho.
Era uma doçura e era completamente louco pela menina, não a largava um segundo.




sempre a saltar, a rebolar-se aos seus pés e a dar ao rabinho de contente, fazia logo os trabalhos de casa e depois brincava com cão e via televisão.
Quando se ia deitar e enquanto a mãe ou o pai lhe contavam uma historinha o Fredy assistia deitado no tapete ao lado da caminha dela e dormia a seu lado toda a noite.
Quando de manhã a mãe a ia acordar ele saltava para cima da cama e fazia uma grande festa aos saltos para a amiguinha acordar.
Andava sempre à volta dela, tanto quando tomava o pequeno almoço como quando se vestia, não a largava um segundo ele sabia que a seguir ela ia para a escola e só a via
quando viesse da escola à tarde.
A casa onde viviam era muito bonita.



Era muito boazinha e obediente e tocava muito bem flauta, sempre que podia tocava algumas músicas para os seus pais e para o seu vizinho idoso que morava sozinho mesmo ao lado da sua casa.
O velhinho o Sr Freitas tinha dois filhos  mas estavam muito longe no Canadá  entretinha--se a inventar coisas para passar o tempo e adorava ouvir a Cristina tocar.

Todas as músicas que ela ia aprendendo na escola tocava-as para o seu amiguinho idoso quando chegava a casa.
Já sabia muitas e ficava muito feliz de as tocar para uma assistência tão atenta como o Sr Freitas e o Fredy.
De vez em quando fazia uma boneca de pano e dava-a á Cristina.



Algumas foram destruídas pelo Fredy que as desfazia nas suas brincadeiras.
A Cristina gostava muito de brincar com os amigos no recreio da escola mas também gostava muito de ouvir as histórias que o Sr Freitas lhe contava.
Ele era muito paciente e lia-lhe histórinhas de alguns livros já muito velhos que tinha comprado há muitos anos para ler aos seus filhos,  dois rapazes e uma menina que agora já são adultos e todos casados.
Os pais da Cristina gostavam muito do Sr Freitas e como ele vivia sozinho de vez em quando convidavam-no a jantar em casa deles.
O velhinho tinha na arrecadação muita tralha e algumas coisas esquisitas, coisas fora do comum, havia algum mistério no meio daquilo tudo acho que ele tinha um dom qualquer especial penso que seria mágico. Uma vez construiu uma cozinha

completa com fogão, forno, banca de lavar louça, louça e panelas, copos, canecas, talheres, tudo direitinho para ela brincar de cozinhar e na verdade talvez por isso e com a ajuda da mãe aprendeu muito cedo a fazer bolos e alguns pratos, tanto que de vez em quando fazia um bolo e levava um bocado para o Sr Freitas.
Era uma família muito feliz, o Pai, o Sr Carlos era motorista e a mãe a Dª Emilia era costureira. Ao domingo iam sempre a uma confeitaria comer croissants, tostas mistas e rissóis e bebiam sumos e Coca Cola.
A Cristina nunca se esquecia do Sr Freitas e pedia sempre aos pais para levar um croissant para ele, os pais como gostavam dele aceitavam e ela toda vaidosa lá lhe ia entregar a gulosice e o velhinho ficava radiante.
O vizinho idoso estava sempre à espera que a menina viesse da escola para lhe dar um beijinho e saber como tinha corrido o dia na escola. Um dia deu-lhe uma flauta que ele próprio fez em madeira toda trabalhada com desenhos gravados de alguns pássaros e de cada vez que a Cristina tocava com ela apareciam logo a sobrevoar o local onde ela estava, passarinhos, melros, pintassilgos e


até pombas que parecia que dançavam criando a ilusão de um bailado certinho com a melodia. Numa dessas tardes, quando chegava da escola deu-lhe um beijinho como de costume e disse-lhe que estava a fazer uma coisa que estava quase pronta para lhe oferecer e a Cristina ficou ansiosa para saber o que era e andou duas semanas sempre a pensar nisso, até que um dia lá estava o Sr Freitas à espera dela com uma bicicleta muito bonita mas em vez de rodas tinha umas pranchas tipo skate sem rodas e imaginem voava.
O velhinho disse-lhe para se sentar e colocar o cinto de segurança e a seguir



ensinou-lhe como a fazia funcionar, era só premir um botão e bastava pensar para onde queria ir que ela obedecia, começava a levantar do solo e voava para o destino desejado. Era uma bicicleta mágica. Das primeiras vezes a Cristina muito a medo voou só no pátio em frente da casa depois através do caminho que ficava a meio das duas casas, a dela e a do Sr Freitas foi para a parte de trás onde tinha uns quintais grandes e depois umas quintas, um rio e uma enorme floresta.
Que alegria, via as casas por cima e tudo em redor, era um espectáculo digno de se ver e conforme foi perdendo o medo cada vez subia mais alto. A vista era fantástica, era como andar de avião, incrível, a visão era completamente diferente, adorava a sua bicicleta voadora. A partir desse dia sempre que chegava da escola e antes de fazer os deveres de casa, conforme tinha acordado com os seus pais,voava um bom pedaço pela zona onde morava e dizia adeus às pessoas lá de cima. Toda a gente gostava de a ver. Ás vezes as coleguinhas da escola corriam em baixo na maior das alegrias a seguir o percurso que ela fazia e gritavam: Cristina, Cristina, Cristina e o Fredy também ajudava à festa, corria junto e dando saltos e normes e grandes correrias ladrava de contente. Os fins de tarde eram para toda a gente graças à alegria da menina inesquecíveis.




Num desses passeios aéreos viu um ninho de cegonhas muito lindas e foi lá espreitar, a mãe cegonha que estava sossegada com a suas crias ficou desconfiada e perguntou:
- Quem és e o que andas aqui a fazer?
- Ela ficou um bocado atrapalhada mas respondeu:
- Eu sou a Cristina e moro ali naquela casa, apontando com o dedo, não tenhas medo que eu não te faço mal. Posso fazer uma festinhas nos teus filhos? São tão pequeninos e tão bonitos. A mãe cegonha autorizou e acho que até ficou feliz, entretanto chegou o marido da cegonha e muito desconfiado disse:
- És a menina que mora lá ao fundo? Eu tenho te visto quando vais e vens da escola e a brincar no pátio. Como é que consegues voar sem asas? E ela explicou-lhe que foi o Sr. Freitas, o seu vizinho idoso que inventou aquela engenhoca parecida com uma bicicleta que voava e obedecia ao seu pensamento e que estava muito feliz porque via tudo de cima  e tudo era ainda mais bonito. Fez mais umas festinhas aos filhotes da cegonha e despediu-se porque não tardava começava a escurecer e ainda não tinha feito os deveres.
A partir desse altura tanto a cegonha como o marido passavam por cima da casa dela e voavam em circulo como que a cumprimenta-la e ela dizia-lhes adeus cá de baixo.
O dia a dia da Cristina era uma festa, tinha uns pais e um vizinho maravilhosos, uns coleguinhas de escola muito amigos, sempre prontos para a brincadeira e a professora a D. Mafalda ensinava muito bem e era muito paciente e simpática com todos os meninos. A ida para a escola era uma festa para todos, aprendiam muitas coisas novas todos os dias e divertiam-se imenso.
No recreio brincavam às escondidas, andavam de escorregão, saltavam ao jogo da macaca, à corda, tudo coisas divertidas, mas o que a Cristina gostava mais era de andar na bicicleta mágica e ver tudo de lá de cima, sentia-se um pássaro.
Quando chegaram as férias grandes, foi uma maravilha, como os pais estavam a trabalhar e ela ficava à guarda do Sr Freitas era uma brincadeira pegada todo o santo dia, ainda por cima o velhinho como gostava muito de pescar levava-a com ele até ao rio que




ficava no final das quintas e os meninos das redondezas, coleguinhas de escola dela apareciam também para brincar e tomar banho no rio numa zona mais baixinha, sempre com o Sr Freitas a vigiar tudo. Que dias tão felizes. Depois de acabar a pesca vinham todos a correr juntamente com o Fredy sempre à frente a comandar as tropas e era aí que Cristina pegava na bicicleta e dava umas voltas por cima das casas onde viviam e todos seguiam a colega  até começar a escurecer, altura em que cada um ia para a sua casa já a pensar no dia seguinte.
Um dia quando voava na sua bicicleta mágica com os coleguinhas em baixo a correr atrás sentiu que estava ser seguida por muitos pássaros, andorinhas, pombas, rolas, tordos,canários e pintassilgos num alegre chilrear que davam um colorido mais alegre ainda e enchiam o ar de magia.



Até os passarinhos gostavam de ver a menina, tal era a alegria que transmitia a toda a gente. Os pais ficavam radiantes à janela a ver a sua filhota a divertir-se assim mas ficavam sempre com receio que se magoasse. Felizmente nunca aconteceu.
Ela já sabia que quando chegasse a casa iria ouvir as recomendações do costume:
- Não podes subir tão alto.
- Tens que andar mais devagar.
- É que não tiveres muito cuidado um dia magoas-te.
Ela ouvia mas sorria sempre porque tinha muito cuidado.
O seu amigo idoso ficava também imensamente feliz, notava-se-lhe na cara, tinha muito orgulho na bicicleta que tinha inventado e adorava ver a menina com tamanha felicidade.
Trabalhou muito toda a vida e agora que estava reformado tinha todo o tempo do mundo, era viúvo, vivia sozinho, e estava muito longe dos filhos e netos.
Entretanto acabaram as férias e tudo voltou ao normal, as aulas as brincadeiras no recreio com os amiguinhos a festa que o Fredy fazia à sua chegada, e os miminhos do costume do seu vizinho idoso.





Um dia o Sr Freitas recebeu uma carta que o deixou imensamente feliz e ao mesmo tempo muito triste.
Era do filho mais velho a dizer que dentro de um mês o viria visitar e passar quinze dias com ele e que se preparasse porque a seguir o levava com ele para o Canadá.
Que vinha ele, a mulher e os dois filhos.
Finalmente ia conhecer os seus netinhos daquele filho.
Enquanto não chegavam andou todo o tempo a pensar que se calhar nunca mais voltava a ver a Cristina e os pais dela.
Durante todo aquele tempo foi dizendo à menina que qualquer dia tinha de viajar e que devia demorar bastante mas ela não tinha a noção de que ele provavelmente não voltava mais.




Um dia parou um táxi à porta e lá estavam o filho a nora e os dois netinhos. Acabaram de arrumar as malas e o Sr Freitas quis logo ir a casa da menina apresentar a sua família aos pais dela.
A Cristina ficou radiante de conhecer o Pedro e a Ana e logo começou a brincar com eles. Passado cinco minutos parecia que se conheciam há muito tempo.
Durante os quinze dias foi uma festa, mal chegava da escola ia ter com os seus novos amigos, brincava um bocadinho, tocava algumas músicas na flauta para todos,





ia fazer os trabalhos da escola e voltava para brincar até à hora do jantar que depois de comer tinha que se deitar para de manhã estar pronta e fresca para mais um dia de aulas.
Foi tudo muito bonito mas eis que chegou o dia da despedida e o Sr Freitas deixou para o fim dizer adeus à sua Cristina, e disse:
- Foi muito bom ter-te como amiga, gosto muito de ti mas tenho que viajar e não sei quando volto.
Olhou para a bicicleta e sabia que ela iria deixar de funcionar, a magia passava sem a sua presença.
Deu-lhe muitos beijinhos e eis senão quando ela lhe perguntou:
- Sr Freitas, como se faz magia?
- ele respondeu:
- Quando um sonho vive dentro de nós, basta acreditar que tudo é possível e encontraremos um caminho para realizá-lo, nada é impossível, basta acreditar!