sábado, 15 de novembro de 2008

Vampiros


Vai tardando a mudança,
vão se enchendo os porcos sujos,
esmorece a esperança
que alguém enfrente os sabujos.

Vampiros... atacam as presas
e sugam o sangue que resta
de criaturas indefesas
à mercê da brutal besta.

Não desarmam enquanto houver,
onde possam cravar os dentes.
Nada os consegue deter
a eles e aos seus componentes.

A gula é de tal forma atróz,
desumana e tão pungente,
que nos torna muda a voz
e transforma em indigente.

Banqueiros e governantes,
vão destruindo a Nação,
a vigarizar são brilhantes
...são chulos de profissão.

...Mundo podre e mal cheiroso,
que premeia a crueldade.
Tem tanto de gracioso
como de promiscuidade.


sábado, 25 de outubro de 2008

Longe de ti



Longe de ti
tudo é triste e inglório,
tão banal e ilusório,
que só mesmo por chalaça
pode alguém erguer a taça
e dizer que me viu sorrir.

Longe de ti
tudo é escuro, vago e frio,
vai sem norte o meu navio,
à deriva, acabrunhado,
tenta em vão desesperado,
à loucura resistir.

Longe de ti
perco o meu próprio caudal,
passo ao estado imaterial,
desaguo em mar profundo,
deixo para sempre este mundo,
não vale a pena existir.




terça-feira, 7 de outubro de 2008

Fosse eu Rei


Fosse eu Rei e dar-te-ia
um jardim Celestial
p’ra colheres no dia a dia
rosas brancas de cristal

Dar-te-ia uma mansão
Toda forrada a veludo
À entrada um brasão
Com teu nome num escudo

Dava-te um lago encantado
Em forma de coração
Florido e delicado
A raiar a perfeição

Fosse eu Rei e dar-te-ia
este reino e o dos céus
p’ra que em minha companhia
sonhasses os sonhos meus

Dar-te-ia tudo aquilo
que soubesse quereres ter
se desejasses o Nilo
roubava-o p’ra te oferecer

Dava-te jóias e ouro
pratas, sedas e rubis
mereces tudo tesouro
és a minha flor de lis.



Gente que sente


A gente nasce
e faz-se
gente que sente.

Mente somente
por não ser crente.
É indecente
que alguém inteligente
faça com que se rebente
uma bomba em Hiroshima.

Francamente…

De repente o existente
sente que o seu parente
que é gente e também sente
que foi sempre mui decente
moribundo realmente
sofre só, sem que alguém tente
um carinho displicente.




sábado, 27 de setembro de 2008

Gaivota atrevida

Acordei sobressaltado,
com medo e angustiado,
que terrivel pesadelo!.
Estava eu no escritório
a fazer um relatório,
a puxar pelo cerebelo.

Quando tal, uma gaivota,
grandessissima idiota,
entra-me pela janela.
Poisa mesmo à minha frente
e com ar incongruente,
faz-se a mim à bicadela.

Tentei enxotá-la em vão
e naquela confusão
saltou p'ra cima de mim.
Aquele bico ameaçador,
eu ali em desfavor,
a assistir ao folhetim.

Defendi-me como pude,
com toda a plenitude,
p'ra resolver a questão.
Já me sentia cansado,
acordei desnorteado,
sem achar a solução.

O medo de uma bicada,
ou então duma cagada,
ainda me dá que pensar.
Vou pôr uma caçadeira
junto à mesa de cabeceira
para quando ela voltar.





sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Londres


Nas asas do sonho
que ao vento componho
vi Londres ao vivo.
Senti o seu cheiro
e fui timoneiro
dum tempo festivo

Museus, galerias,
jardins, poesias,
memórias sentidas.
Gente de outras raças
que enchem as praças,
ruas e avenidas

Muitos monumentos,
castelos, conventos,
torres e abadias.
Figuras de cera
numa atmosfera
de fantasia.

O pulsar da vida
luta desabrida
que o tempo escasseia.
A gente apinhada
no metro à molhada,
enorme colmeia.

Outros idiomas
posturas, aromas
e modos de estar.
Selectos, anarcas,
uns bons outros rascas
mas tudo a girar.

Não deu p'ra ver tudo
...é muito conteúdo
mas gostei de lá estar.
Adorei o que vi
e pelo que senti,
hei-de lá voltar.



sábado, 30 de agosto de 2008

Inquietação


Na segunda sou esperança
acredito e vou à luta.
Na terça sou militança,
cumpro, e sou prostituta.

Na quarta espero vencer
a frustração que desgasta.
Na quinta quero esquecer,
farto de vida madrasta.

Na sexta escondo a dor
que me consome as entranhas.
No sábado faço a rigor
o jogo das artimanhas.

Domingo devia parar,
relaxar desta agonia.
...continuo a trabalhar
enquanto tiver energia.



sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Quem sou...


Praticamente perdido
num mar d'incertezas e duvidas.
Estou para aqui recolhido,
inquieto, introvertido,
num jogo de escondidas.

Isto aqui é um inferno,
será que existe o paraiso?
Sou apenas subalterno
que vive um imenso inverno
na busca de algo conciso.

Tanto sonho esvoaçou,
tanta luta aconteceu,
porém, eu não sei quem sou,
sei apenas que aqui estou,
num mundo que não é o meu.

Serei obra inacabada
lançada aqui por engano?
Não me enquadro na fachada
deste tempo, qual jangada
à deriva no oceano.




sábado, 16 de agosto de 2008

A noite



…chegar a casa
de madrugada,
abrir a porta,
subir as escadas,
sentir o silêncio
da noite calma,
tirar os sapatos
e despir a roupa,
vestir o pijama,
calçar os chinelos,
o café com leite
e as torradinhas.

Depois no meu canto,
cantinho das artes,
o computador,
as longas pesquisas,
responder aos e-mail’s,
a Sic Noticias.

Sentir a brisa fresca
que entra pela janela,
desligar a luz,
saborear a calma,
pensar num poema,
deitar mãos à obra
e no teclado
verter coisas d’alma
bem de cá de dentro.

Muitos cigarros,
compor a canção,
a guitarrada on-line
para todo o mundo
com improvisos
do pensamento.

O desenho a carvão,
a flor a pastel,
a pintura louca
a acrílico ou a óleo.

… são tão preenchidas
as noites que adoro.
- Uf!, já é de manhã
vou-me deitar.



sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O ignorante



O ignorante
é irritante…
até dá dó.
Tem de estar só
senão chateia
e volta e meia
trás dissabores,
com os seus valores.
Ainda por cima
despreza a rima.
Sabe tudo
e amiúdo
troça da gente.
Incoerente
torna o instante
angustiante.
Vazio de tudo
o cascudo
adora álcool
e futebol,
e o seu mundo
não é rotundo,
é quadrado.
Inusitado
não liga a flores,
detesta as cores
dos seus rivais.
Não lê jornais
mas é feliz,
por isso fiz
este poema.
O problema
é que assim fico
com o fanico
de não saber,
a bendizer,
se vale a pena
ligar a antena
e estar atento
ao turbulento
quotidiano
do mundo insano
em que vivemos.
… Oremos!



quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Roda da vida


…fui chuva forte, pé d’água,
sou por do sol transcendente,
vou e volto com a lua,
ás vezes sou capicua
com loucura permanente.

Já fui homem, sou criança,
pela manhã corro o mundo,
de tarde agarro a esperança,
à noite só penso em vingança,
o ódio é mais que profundo.

E não fora a madrugada
já teria estoirado,
durmo sobre a caminhada,
descanso enquanto a minha fada
me alivia o costado.

Acordo na relva viçosa
do colo do seu jardim,
delicada a mariposa
sobrevoa bem charmosa
o seu rosto de setim.

O que vier… se verá,
cá estarei de peito aberto,
aqui, ali e acolá
o coração sabe ao certo
se a atitude é boa ou má.



terça-feira, 12 de agosto de 2008

Vindima


Magotes de gente
de cesto à cabeça
que arduamente
faz com que aconteça

Com muito carinho
alegre e contente
o milagre do vinho
dum ano diferente

O sol não desiste
o suor cai em bica
o camponês persiste
insiste com pica

Tesoura na mão
a cortar os cachos
com apetição
vencem berbicachos

Subindo a encosta
e descendo à vez
gente bem disposta
e com lucidez

Carrega o tractor
com o sémen da terra
esquece a dor
e ganha a guerra

Depois à tardinha
dentro do lagar
gozando a sombrinha
começam a pisar

Com passo acertado
fileira cerrada
andam braço dado
dão azo à cegada

Entoam cantigas
que sabem de cor
e as raparigas
dão o seu melhor

E assim nasce o vinho
parece magia
vinho com carinho
em paz e harmonia



segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Porta aberta


Se o sentimento te manda
voltar p’ra donde partiste,
não hesites e desanda,
não fiques nessa demanda,
podes crer que Deus existe.

Navega por rota certa,
livra-te dessa tormenta.
Aqui tens a porta aberta,
não arrisques e desperta,
é o oito ou o oitenta.

Tens à espera o abraço,
o carinho e a amizade.
O que nos une é um laço
tão forte que só há espaço
p’rá leal fraternidade.


sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Chão gretado


Quando invades o meu espaço
violentas o meu mundo.
Despertas em mim o cansaço,
Fazes-me ficar furibundo.

Semeias joio à toa,
sinto a seiva amordaçada,
perfuras o chão da canoa
que me há-de levar de abalada.

P’ra tudo há uma hora certa,
provérbio sacramental,
se mantenho a porta aberta
perco a aurora boreal

São mundos diferentes de todo,
de um puzle que não se completa.
Preciso do meu próprio nodo
já chega tanta pirueta.

O chão está já tão gretado
que jamais fará sentido,
com o coração apertado,
desta vez estou decidido.




sábado, 2 de agosto de 2008

Fado do desencontro


Quando mais preciso dele
mais o sinto afastado
quanto mais o amor me impele
mais me sinto descartado

Anda sempre em contra-mão,
Acho que não dá por mim
Ou é falta de atenção
Ou então é mesmo assim

Ela vive outra cadência,
faz o que lhe dá na gana
indiferente à carência
por vezes é desumana

Ignora o que eu sinto,
Sinto-me posto de lado
Não vê que ando faminto
Triste e inconsolado

Desce se vou a subir
sobe quando vou descer
não consigo descobrir
maneira de a convencer

Tenho esperança que um dia
Finalmente veja em mim
O seu porto e companhia
e embeleze o meu jardim.




sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Recordar é viver


Sentei-me na margem
do rio, que me viu
crescer e sonhar,
sofrer e saudar
gente que já partiu
e deixou muita saudade.
Gente com humildade,
gente de coragem,
que continuo a adorar.

A água passa lentamente
e o meu pensamento
vagueia no inventário
do tempo que já passou
e tanta marca deixou.
Percorro o cenário
que dava para o argumento
dum filme eloquente
ou talvez arbitrário.

Perdido em divagações
das lembranças que acarinho
nem dei pelo tempo passar,
a noite já está a chegar,
vou retomar o caminho,
tenho muito para andar.
Parto a custo e fico a olhar
grato pelas emoções
co’a certeza de voltar



quarta-feira, 30 de julho de 2008

Canto


Canto aquilo que penso,
deixo cheiro a incenso
a pairar por onde vou.
Partilho as emoções,
lanço ao vento ilusões
que o coração desenhou.

Danço quase sempre nu,
despido de qualquer tabu,
isento de hipoteca.
Descalço, co’a alma a vibrar,
não dou pela hora a passar
e ergo a minha caneca.

Infrinjo as leis bacocas,
obrigo-os a sair das tocas,
chamo os bois pelo nome.
Fervilha-me o sangue nas veias,
no meu peito marés-cheias
que a tirania consome.

Pinto com pincéis de fogo,
escrevo fora de jogo
sem renegar o que fiz.
Se amanhã morrer num canto,
não me causará espanto,
é assim que sou feliz.



sábado, 26 de julho de 2008

Liberdade


Não! Não me obriguem a fazer
nada contra os meus princípios
não estou pronto p’ra ceder
à proibição de escolher
todos os meus desafios

Respeitem o meu pensamento
deixem-me ser irrestrito
quero apenas ser isento
viver e dar cumprimento
àquilo em que acredito

Quero ter a liberdade
de escolher com o coração
a minha autenticidade
tem a ver co’a faculdade
de não ver só o cifrão

São coisas saídas do peito
que a cabeça faz fluir
é uma questão de conceito
por isso quando me deito
rezo a Deus p’ra me assistir.



quinta-feira, 24 de julho de 2008

Conversas



Falo muito co’as árvores,
converso com rios e ribeiros,
confesso os meus temores
utópicos e verdadeiros.

Conto segredos ao mar,
barafusto com os rochedos,
peço para me aconselhar,
p’ra me livrarem dos medos.

Ouço músicas que o vento
me trás de outras paragens
e ao som delas eu invento
as minhas próprias viagens.

Escrevo poemas na areia,
danço com a preia-mar,
depois aproveito a boleia
e navego p’ra me mimar.

Não me importa o que pensa
quem me vê falar sozinho,
tenho sempre a recompensa
- ouvem-me e dão-me colinho.




quarta-feira, 23 de julho de 2008

Poemas perdidos


Mal aprendi a escrever
comecei a rabiscar
pensamentos e a sorver
um mundo a despontar.

Em pedaços de papel…
Qualquer coisa me servia.
Comandava o meu batel,
com a força da alquimia.

Dava azo à utopia,
qual quimera afortunada,
fazia a apologia
da partilha abençoada.

Rimas vindas cá de dentro
feitas para as minhas divas,
no meu próprio epicentro,
conjugações positivas.

Imaginava canções,
inventando sóis e mares,
repartia emoções
com formas peculiares.

Quem me dera reaver
os poemas que perdi,
gostava de poder ler
coisas velhas que escrevi.

Por vezes deitamos fora
pedaços da nossa vida,
conteúdos que agora
não têm volta, só ida.



terça-feira, 22 de julho de 2008

Sopa de nabos


Nabos? Há montanhas por aí.
Babam-se na sua vaidade
E exibem a mesquinhez
que a sua postura indicia.
Quando falam sobressai
a imensa bestialidade,
falta de sensatez,
incongruência e malícia

Gosto deles… se for na sopa.
A sopa de nabos é boa.
De preferência quentinha,
servida em prato ou tigela.
A fumegar, quem não topa?
acompanhada com broa
seja em casa ou na tasquinha
pode até vir na panela.

Aquele gosto a feijão branco,
carne de porco e batata,
cenoura, nabo às rodelas,
cebola, alho e sal.
Juro que estou a ser franco…
Os nabos têm uma lata…
Estão muitos em Bruxelas
e agem de forma asnal.



quinta-feira, 17 de julho de 2008

Como em tantos outros dias



Hoje o sol banha a cidade
como em tantos outros dias…

As moçoilas desroupadas
que o calor faz-se sentir,
os turistas ocupados
a registar as imagens
p’ra mais tarde recordar.
A ida ao boteco mais próximo,
a cerveja bem gelada,
a olhadela no mapa
p’ra não perderem o norte.
O sentar à beira rio
num qualquer sitio com sombra,
que a caminhada vai longa,
e é preciso descansar.

Hoje eu curto a solidão
como em tantos outros dias…

Gasto o tempo que me resta
em pensamentos perdido.
Tudo à volta é tão banal,
nada acontece de novo,
as pessoas são diferentes
mas completamente iguais.
No meio de tanta gente
estou sozinho, deslocado,
preciso do meu cantinho
onde tudo é bem diferente.
Quero mesmo é estar comigo,
o silêncio sabe-me ouvir
e entende o que sinto.




segunda-feira, 14 de julho de 2008

Não me apetece sorrir...


Tudo à volta está cinzento
Vazio e despovoado
Cheira mesmo a desalento
Até mesmo o firmamento
Tem um tom amargurado

Não me apetece sorrir…

Esta chuva que detesto
Põe-me triste e sem vontade
De nada vale o protesto
O melhor é andar lesto
E aceitar a realidade

Não me apetece sorrir…

Que adianta querer sol
Num dia tão assombrado
Não ouço o rouxinol
Fazia-me jeito um cachecol
Ainda acabo constipado

Não me apetece sorrir…

Tudo é tosco e sem encanto
folhas mortas e apatia
É melhor ir para o meu canto
Que não há santa nem santo
Que me valha neste dia

Estou triste….
Não me apetece sorrir….



domingo, 13 de julho de 2008

Estado da nação



Mil oitocentos e sessenta e sete!

Há cento e quarenta e um anos
o Eça de Queiroz dizia,
que os ministros Lusitanos
eram de todo insanos
e causavam alergia.

Todos muito inteligentes
"quem fala assim não é gago"
dominam todas as frentes
com soluções excelentes,
tudo gente do carago.

Jantares e inaugurações,
privilégios, compadrios,
vaidades e corrupções,
roubos de muitos milhões,
e o povo... de bolsos vazios.

Um país de expediente
mergulhado em nulidade,
onde tudo é aparente,
imoral, incompetente,
reles, sem dignidade.

Hoje como antigamente
não há ponta onde pegar,
como havemos de ir p'rá frente
com este tipo de gente
que só se quer governar.



sexta-feira, 11 de julho de 2008

Oh! tempo



Com passo certo e seguro
Em cadência pendular
Segue directo ao futuro
Indiferente ao meu apuro
Nada o consegue abalar

Vai em frente e não regressa
Despreza todo o passado
O amanhã é que interessa
Não pára porque tem pressa
Parece que está atrasado

Onde está a meninice
E a inocência que perdi?
Porque corro p’rá velhice
Devolve-me a fedelhice
Que saiba não ta vendi

Oh! Tempo faz como o vento
Vai e volta vez em quando
Que a saudade que acalento
Precisa viver o momento
Que o coração vai clamando.




quinta-feira, 10 de julho de 2008

De bem com a vida



Hoje estou de bem com a vida
Estou de bem comigo próprio
Vida colorida, embebida
No meu sonho e livre arbítrio

Falo co’as flores, elas ouvem
E largam suave fragrância
Sorvo o perfume que anuem
E voo nos céus da existência

Largo cantigas ao vento
Paridas pelo coração
Com notas que o pensamento
Me põe na palma da mão

Chamar-lhe estado de graça
Talvez seja o mais correcto
Hoje posso erguer a taça
Amanhã não sei ao certo.



domingo, 10 de fevereiro de 2008

A chuva cai


A chuva cai
e molha o rosto
da criança que segura
o guarda chuva
contra o vento
com bravura
mas acaba encharcado

A chuva cai
e a velhinha
procura desesperada
um recanto abrigado
p'ra esperar
que o aguaceiro
dê lugar ao tempo bom
e a deixe p'ra casa voltar

A chuva cai
e parte a flor
que indefesa não aguenta
as grossas gotas
que se abatem
em cima do frágil corpo
que não tem capacidade
de enfrentar
tamanho embate

A chuva cai
vai-se a alegria
fica tudo pachorrento
ninguém sabe como estar
apenas o lavrador
dá graças pelo mau tempo
que a seca estava a matar
o que tinha plantado.





sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Criação


Nos acordes que produzo,
obtuso e convexo,
sem nexo, procuro a harmonia
magia do momento superior
- o esplendor do sublime!

Rime ou não,
sem padrão
nem regras a amordaçar

Criar é construir,
parir o sonho inventado
polvilhado com amor,
sem temor de que o futuro
obscuro e sem razão
não entenda a canção.




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Que bom seria


Quem dera a Bela entendesse
Os sonhos que eu alimento
E me desse a benesse
De ser meu complemento

Quem dera a Bela soubesse
Que há mundo p’ra lá do mundo
Demonstrasse algum interesse
Por algo de mais profundo

Quem dera visse mais além
Sentisse o grito calado
Desta alma destroçada

Que apenas quer o seu bem
Prefere ser magoado
A vê-la desencantada.