quarta-feira, 8 de julho de 2009

Entrevista no Literatura Clandestina

Segunda-feira, 29 de Junho de 2009

“De perfil fico aprumado, demasiado alinhado, feito múmia paralítica. Prefiro ser visto de frente, dar a cara galhardamente e enfrentar o que isso implica” (G.S.)

Alfredo de Morais, de Feira de Santana-BA, que além de poeta, psicólogo, sargento da Polícia Militar do Estado da Bahia, ator, escritor, dramaturgo e artista plástico, hoje atua nas áreas de projetos e melhoramento da Policia Militar e na área de educação no projeto do PEAS (*Programa de Educação Afetivo Sexual) da Arcellor Mital, capacitando professores da rede pública, sendo também professor de vários cursos em faculdades e universidades da cidade de Feira de Santana, entrevista o poeta, pintor, músico e compositor português Gaspar Silva. Gaspar nasceu na cidade do Porto – Portugal, tem vários prêmios em festivais da canção, colaboração em várias peças de teatro na qualidade de autor musical e também é empresário ligado à indústria hoteleira. Tanto Morais quanto Silva fazem parte da antologia “Poemas de Mil Compassos” (no prelo) da Coleção Literatura Clandestina/2009.
Alfredo de Morais – Gaspar é um prazer fazer uma entrevista com um artista tão completo como você. Considero o artista uma antena para o mundo, como se este fosse a parabólica dos sentidos, aquele que capta as respostas das perguntas não feitas. A partir do princípio que cada um tem sua dor e sente o mundo de uma forma própria, como você considera sua arte e qual sua fonte dentro deste universo artístico?
Gaspar Silva – O prazer é todo meu, caro Alfredo de Morais. Desde criança que me interesso muito pelas artes. Sou um autodidata nato e com exceção da música que sempre levei muito a sério, todas as outras vertentes ocorrem por impulsos, isto é, umas vezes pinto durante algum tempo, outras escrevo, depois componho, mas o que faço com uma certa regularidade é música. Ultimamente tenho escrito algumas peças para guitarra (vocês chamam de violão), e esta forma saltitante de produzir talvez tenha a ver com o fato de eu ser um tanto ao quanto inconstante e viver em busca de novos desafios, inspirado sempre no quotidiano e nas coisas que vão acontecendo à minha volta.
Alfredo de Morais – A Europa é o berço de diversas formas de arte, mas, sem dúvida, muitos artistas atuais vem beber nas fontes doces do Brasil. Você já foi ou é influenciado por algum músico brasileiro? Qual o estilo de música que você gosta de trabalhar?
Gaspar Silva – As minhas influências vão desde a música anglo-saxônica, passando pelo jazz, blues, bossa nova, etc, mas tenho uma admiração muito especial por Chico Buarque, Tom Jobim e Ivan Lins. No caso do Chico, acho que é mesmo adoração, esse aí é para mim, no que diz respeito à música popular, o maior compositor vivo do mundo. O ano passado assisti emocionado a um show dele aqui no Porto, foi simplesmente inesquecível, o homem é um gênio. Quanto ao estilo de música que mais gosto de trabalhar, aí torna-se complicado, porque estou habituado a fazer de tudo um pouco, nestes últimos tempos estou muito virado para os instrumentais.
“Peguei em alguns poemas, letras de músicas minhas e alguns textos que tenho feito ao longo dos tempos e resolvi imprimi-los e fazer um livro completamente artesanal. Deu-me um gozo incrível passar as sucessivas etapas da encadernação. Estou muito contente por ter conseguido. Aí está a foto de um exemplar único.”


Alfredo de Morais – Em 23 e 24 de junho se comemora o São João do Porto onde, não por acaso, coincide com a festa junina daqui. Neste evento podemos destacar as sardinhadas, os manjericos com as respectivas quadras sanjoaninas, o alho-porro, as marteladas e os bailaricos de freguesia Na nossa festa se destacam as canjicas, os quentões, as quadrilhas de São João e o forró. Como você definiria essa ligação cultural entre Brasil e Portugal? E qual o impacto em suas obras desta proximidade?
Gaspar Silva – A noite de São João é a mais tradicional festa da cidade do Porto. Novos e velhos saem para a rua e concentram-se essencialmente nas margens do Rio Douro junto à Ponte D. Luís. A partir das 21 horas começa a engrossar aquele mar de gente que entre as marteladas, sardinhas, bifanas e muita cerveja, vão ganhando posição para o espetáculo da noite, os fogos de artifício, que é um dos melhores do mundo e chega há durar quarenta minutos. Mas não é só aí que se festeja, acontecem bailaricos e petiscadas por tudo quanto é bairro nas redondezas. Tanto quanto sei, foram os portugueses que introduziram no Nordeste do Brasil as festas juninas, embora se festejem também em vários outros países na Europa. A não ser o fato de ter tocado durante muitos anos nas noitadas de São João nunca tive nada a ver, em termos criativos, com esses festejos, tive sim, com a composição de várias marchas para os desfiles que acontecem normalmente uma semana antes, onde cada freguesia do conselho se faz representar por uma rusga, com enfeites, carros alegóricos, bailarinos e uma banda musical. Percorrem várias artérias da cidade, pejadas de gente a assistir e terminam num local onde se apresentam perante um júri que depois de avaliá-las divulga as primeiras três do ano.

Alfredo de Morais – Em 2001 o Porto foi a capital européia da Cultura, de lá pra cá, o que mudou no panorama das artes na sua cidade?
Gaspar Silva – 2001 foi um ano muito rico em termos culturais. Da música e dança. Ao teatro, às artes plásticas, arquitetura e literatura, etc. Tudo aconteceu num ritmo verdadeiramente alucinante e com propostas de altíssima qualidade. Foram criadas imensas estruturas para o evento que, entretanto, criaram raízes e hoje são de uma grande importância para a cultura da cidade. A mais relevante no meu entender foi à concretização da Casa da Música. Ícone importante do Porto e região norte que embora não tenha sido concluída naquele ano conforme o projetado, mas demorou ainda mais quatro anos, mas é sem dúvida de extrema importância para a cultura desta zona.
Alfredo de Morais – Tripas à moda do Porto ou bacalhau à Gomes de Sá?
Gaspar Silva – São dois pratos muito apreciados pelos portugueses, prefiro as tripas à moda do Porto.
Alfredo de Morais – Você é hoteleiro em uma das cidades mais visitadas da Europa, como conciliar essas duas paixões, ou melhor, as suas várias paixões, artes e negócios?
Gaspar Silva – É uma questão de organização. Há um tempo para tudo e como quem corre por gosto não cansa, lá vou conseguindo o tempo necessário para darem largas (*asas) à imaginação.

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Poemas do Gaspar recitados por Zélia Santos
Blogs do Gaspar: http://becodasartes.blogspot.com/
http://opaisdatanga.blogspot.com/
http://gasparsilva.blogspot.com/

fonte do painel a óleo e “Descanso"
(acrílico sobre tela prensada): Gaspar Silva


Retirado de http://www.literaturaclandestina.blogspot.com/




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